Autismo, esse enorme molho de brócolos!
Tudo se comenta, tudo se investiga, em tudo se dá palpites e com facilidade criticamos o modo como os outros educam os seus filhos. E assim vivemos e assim criamos os nossos filhos. O mundo ideal seria um gigante e delicioso molho de "brócolos"! Toda a gente sabe que "brócolos" fazem muito bem, por isso o ideal é comer "brócolos"! Mas, como fazemos uma criança autista gostar de "brócolos"?
O Miguel sempre teve interesses intensos, que duram uns meses e quando pensa que o seu conhecimento está saciado, passa para o seguinte. Com 2 anos rodava objetos, com 3 carregava um saco com letras e números. Quando já os sabia de trás para a frente vieram os dinossauros em latim e com 4 anos conheceu o iPad e a língua inglesa. Parecia filho de emigrantes! 😊 Aos 5 aprendeu a ler sozinho, perdia horas a construir pistas de berlindes e a ouvir vídeos de receitas de culinária brasileira. Depois vieram os escorregas aquáticos, os ovos de chocolate a abrir, os comboios, as linhas de metro de várias cidades. Quase todos os seus interesses foram e são estranhos ou desadequados para a idade. O ideal seria ele brincar na natureza, jogar pouco consola porque cria dependência, ficar longe do telemóvel do Pai, brincar com jogos educativos, construir legos, puzzles, desenhar, brincar ao "faz de conta". O ideal era ele gostar de "brócolos"!!
Vivemos todos com uma aspiração ao mundo ideal, mas o autismo ensinou-me que ele não existe, que não existem Pais perfeitos, que não somos todos iguais e com a maior certeza de todas, não temos que gostar todos de "brócolos" só porque fazem bem!
Brincar na natureza é maravilhoso, estimula a criatividade, a motricidade, treina os sentidos, mas um bom jogo na consola com o Pai faz desenvolver o raciocínio, a motricidade fina, os afetos... e um telemóvel dado para a mão, na hora certa, pode evitar uma birra daquelas que só quem tem filhos autistas conhece. Brincar com legos construindo uma rede de metro de um país qualquer, porque não?! E ser chefe de cozinha e preparar o jantar, seguindo as instruções de uma brasileira no Youtube? Sou da opinião que tudo feito de um modo controlado, sem excessos, nos dá muitos progressos no desenvolvimento de uma criança autista. Travar obsessões sim, mas tirar partido dos interesses para alavancar a superação das suas dificuldades. Tenho provas de que resulta! 😊
Contudo, o ideal seria ele gostar de "brócolos", daqueles super saudáveis, porque eu como Mãe que ama o seu filho sei que "brócolos" fazem bem e eu quero o melhor para ele! Mas agora pergunto eu:
Que graça tem "brócolos"?
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