Os ataques terroristas são cada vez mais frequentes e não os podemos ignorar.

Por vezes, mesmo que o queiramos fazer, não conseguimos, já que somos constantemente bombardeados pelas imagens destes acontecimentos trágicos. 

Se, por um lado, a comunicação social é um poderoso meio de comunicação que nos informa de tudo o que se passa no mundo, praticamente em tempo real, por outro lado, os media também perpetuam a catástrofe e a fase crítica, podendo mesmo despoletar sentimentos traumáticos relacionados com o evento, de forma indireta. 

Não é por acaso que, em situação de catástrofe, a Tipologia das Vítimas na perspetiva psicossocial envolve as vítimas de 5º nível e de 6º nível, não envolvidas diretamente e quando o acaso evitou a exposição direta, respetivamente.

Nestas vítimas indiretas, as crianças e os adolescentes não são exceção. Seja porque ouviram falar sobre este assunto na escola, seja porque foram surpreendidos com imagens na televisão enquanto os pais jantavam, ou até nos jornais expostos nos pontos de venda. E é após estes momentos que muitas vezes nos chegam a casa com preocupações, medos e inseguranças relacionados com a possibilidade de um evento deste tipo ocorrer nas suas vidas.



Há alguma coisa que possamos fazer para evitar que isto aconteça?

Como é que podemos ajudar os nossos filhos, sobrinhos, netos, ou até alunos e outras crianças com quem trabalhamos enquanto profissionais de saúde, por exemplo?

Em primeiro lugar, nós, adultos, também precisamos de apoio nestes momentos. Se for surpreendido com uma notícia de um novo ataque terrorista em frente à criança: 
  • evite exponenciar a catástrofe, evitando reações intensas;

  • procure manter o controlo e, assim que possível, arranje um tempo adequado para partilhar as suas emoções com um membro de família ou amigo de confiança;

  • tire um tempo do dia para se acalmar, podendo recorrer a exercícios de relaxamento.
Se tem pessoas conhecidas desaparecidas ou que foram confrontadas com a situação e está preocupado, evite tomar decisões relacionadas com mudanças radicais, bem como comportamentos de risco como consumo de substâncias como álcool ou outros, pois provavelmente irão desencadear problemas de sono, de concentraçãoe outros problemas que só por si, já poderiam surgir dada a situação exigente. É possível que nos dias subsequentes desenvolva uma atitude de superproteção. É comum nestes casos. O mais importante é não abandonar as suas rotinas, sobretudo as rotinas familiares, tendo também uma maior preocupação em garantir os seus hábitos saudáveis de sono, alimentação e exercício físico.

E as crianças? Como as podemos ajudar?

A nossa explicação sobre o terrorismo deverá sempre depender da idade da criança. No entanto, independentemente da faixa etária em que a criança ou o jovem se encontra, a regra é sempre perguntar primeiro o que sabe sobre o assunto e adequar o nosso discurso em função disso.




1ª infância (até aos 2 anos)
  • nesta fase a criança está muito centrada na exploração do mundo através dos sentidos, recorrendo sobretudo ao tacto;

  • não faz sentido introduzir assuntos, já que nesta fase as aprendizagens não são intencionais;

  • se lhe fizer alguma questão sobre algo que viu, conforte-a dizendo que os pais estão ali e que não tem que se preocupar;

  • não dê informação desnecessariamente, sem ter sido solicitada pela criança.


Idade pré-escolar (3-5 anos)
  • nesta fase a criança já compreende bastante o que ouve e já tem um discurso mais percetível para os adultos;

  • já começa a ter noção causa-efeito;

  • é muito curiosa;

  • imita muito os adultos;

  • começa a distinguir o certo do errado;

  • não introduza os assuntos, no entanto, se a criança vir alguma imagem e perguntar, tente primeiro saber o que ela sabe sobre o assunto e o que acha que está a acontecer;

  • pode aproveitar para fazer um paralelismo com as birras e zangas entre amigos no jardim de infância ou explicar que há pessoas boas e pessoas más;

  • a criança pode ficar assustada e se isso acontecer, quererá estar com pessoas e sentir que está protegida pelos adultos;

  • permita que a criança fale sobre isso e ajude-a a nomear sentimentos;

  • ajude-a a sentir esperança no futuro dizendo que vão continuar a fazer as vossas coisas juntos, como brincar e ir a outros sítios.


Idade escolar (6-11 anos)
  • a criança começa a ter memórias mais contínuas e organizadas;

  • as suas capacidades de raciocínio estão mais desenvolvidas e a criança já recorre ao pensamento lógico para chegar a algumas soluções;

  • ainda apresenta algumas dificuldades em lidar com o não concreto;

  • começam a desenvolver um forte sentido de justiça e a ter maior preocupação com o que está errado do que com o que está certo;

  • com a entrada na escola a criança vai tendo mais acesso a informação e terá também outras bases de compreensão, pelo que deve protegê-la das imagens e dos relatos mais chocantes presentes em reportagens reais na TV;

  • desmistificar medos e perceber o que já sabem; 

  • não fingir que não aconteceu, no entanto, não deve tornar este assunto central para não causar alarmismo;

  • nesta fase pode ser mais claro e objetivo, mas sem esquecer que estará a falar com uma criança;

  • explicar-lhe algumas noções de religião e referir que é algo que não acontece a toda a hora mas é importante estar atento, com naturalidade;

  • explicar que os seus amigos podem estar assustados mas que agora estão num local seguro e que a família está em segurança, repetindo as vezes que forem necessárias;

  • podem surgir muitos pesadelos e aí é importante deixar a criança falar sobre eles e confortar;

  • encoraje a criança a retomar/ continuar as suas rotinas;

  • encoraje atividades construtivas em prol dos outros, mas sem o sobrecarregar;

  • em caso de queixas somáticas tentar providenciar-lhe conforto e assegurar que está tudo normal, mas de forma prática evitando reforçar as queixas.


Início da adolescência (12-15 anos)
  • já consegue usar o pensamento lógico na busca de soluções para os problemas que possam surgir;

  • preocupa-se com um tratamento justo para os outros;

  • procura encontrar alternativas e tomar decisões sozinhos;

  • capacidade de aplicar conceitos a raciocínios específicos;

  • dificuldade em admitir os seus receios com medo de ser rotulado; 

  • deve ajudar o adolescente a compreender que esses sentimentos são normais e comuns;

  • tente estar junto do seu filho quando ele estiver a ver TV, pergunte-lhe o que viu e esclareça alguma dúvida de forma realista, mas sem ser demasiado detalhado se o adolescente ainda não tiver toda a informação sobre o assunto;

  • evitar comportamentos de risco como resultado de alguma desesperança no futuro, dizendo que não é boa ideia agir assim; 

  • explicar que estas pessoas dizem agir assim por causa da religião, no entanto, a grande maioria das pessoas da mesma religião não concorda com estes atos;

  • referir que o objetivo dos terroristas é precisamente causar medo, mas que não têm o direito nem vão conseguir que deixemos de viver as nossas vidas; 

  • dar algumas estratégias de segurança caso aconteça alguma coisa; 

  • fomentar tolerância e respeito pelos outros.


Adolescência (16-18 anos)
  • têm uma grande preocupação acerca do futuro, começando a integrar conhecimentos que servirão para tomar decisões futuras; 

  • alguma desilusão entre os valores estabelecidos e determinadas atitudes/ comportamentos manifestados pela família e amigos; 

  • relembre-lhe que está seguro e que devemos continuar a viver as nossas vidas perante esta violência a que se assiste; 

  • dar algumas estratégias de segurança caso o adolescente venha passar por alguma situação desta natureza; 

  • encorajar a tolerância e o respeito pelos outros, bem como o benefício e não o malefício, desmistificando preconceitos como xenofobia ou racismo; 

  • fomentar o voluntariado, mas sem sobrecarregar o jovem. 
Acima de tudo, deverá sempre evitar a exposição das crianças e dos jovens às notícias, já que bastará aquela que não conseguir controlar na rua ou na escola. Fique atento e esteja preparado para conter a angústia das crianças caso surja, de formas mais óbvias ou de forma mais implícita, através de pesadelos, queixas somáticas ou enurese (urina-se durante o sono), sendo mais tolerante e compreensivo nestes momentos. 

Ter esperança e desenvolver a resiliência é fundamental nestas alturas e isto deverá começar em nós, adultos!






Cristina Reis