Vejo o ato de parir como uma oportunidade única de renascimento e fortalecimento do poder interior da mulher. É um acontecimento raro que exige total confiança no seu corpo e em si própria, onde ela se sente como uma guerreira, onde se escuta... respira... e entra numa dança com o seu bebé. Juntos chegarão ao culminar de uma viagem de 9 meses. Uma viagem de desenvolvimento, de preparação, de desconstrução de crenças, mitos e medos. Por isso vejo-o como um evento sagrado.

Sendo um ato sagrado, não podemos deixar passar esta oportunidade única sem dar ao casal a possibilidade de refletir e escolher a forma como desejam o seu parto. 

Há apenas algumas gerações, a mulher tinha os seus filhos em casa, era acompanhada no parto por mulheres que já tinham tido os seus filhos e tinham mais experiência. Nos primeiros dias, essas mulheres ajudavam em casa, com os afazeres domésticos, a cozinhar e a ajudar a tomar conta das outras crianças. 

Hoje, a maioria dos partos acontece em ambiente hospitalar, onde uma equipa especializada acompanha a mulher e é essa equipa quem tem o papel principal: o médico obstetra, a enfermeira obstétrica, a auxiliar de enfermagem, o pediatra. Cada um com a sua função bem definida. 

Com a evolução da medicina e das tecnologias associadas, ganharam-se muitas coisas, mas perdeu-se o acompanhamento e apoio emocional à grávida. O parto passou de um evento em ambiente familiar para um evento em ambiente hospitalar e, apesar da especialização das equipas, não há quem cuide especificamente do bem-estar físico e emocional da mãe que está a dar à luz e a Doula vem preencher esta lacuna.

O parto tornou-se um evento médico e, cada vez mais, deixando as capacidades inatas da mulher e do bebé para segundo plano. Desde o ambiente impessoal dos hospitais, à presença de um grande número de pessoas desconhecidas num momento tão íntimo para a mulher, são fatores que aunmentam o medo, a dor e a ansiedade. Estes momentos são de imensa importância emocional e afetiva e a doula vem satisfazer esta necessidade de conforto, emoção e afeto, que não cabe a nenhum outro profissional dentro do ambiente hospitalar. 

Com a informação baseada na evidência, com a desconstrução de todas as dúvidas, com o conhecimento das várias formas de nascer e como se desenrolam os processos, o casal pode construir o seu Plano de Parto.

O Plano de Parto reflete os desejos e vontades do casal para esse momento maravilhoso. Sinto que o parto é um momento incrivelmente imprevisível na nossa vida, por isso este plano deve transmitir o que o casal pretende, mas não deve ser rígido. Deve estar na mente do casal, que a qualquer momento pode ser necessária uma intervenção diferente da que estavam à espera. E estas decisões devem ser tomadas e respeitadas em conjunto, o casal com a equipa médica.

Para ajudar o casal neste processo cheio de sentimentos a gerir, decisões para tomar, informação para aprender, existe a Doula.





Catarina Gaspar Pimpão