Como posso manter os meus filhos seguros on-line? Perguntas e respostas para crianças e pais.

Aqui há uns meses fiz uma pesquisa com o meu nome entre aspas no Google. Deparei-me com todo um manancial de informações e imagens que não foram colocadas por mim. A experiência não foi agradável e desafio os Pais que nos lêem a fazer o mesmo. 

Enquanto são pequenos e zelamos pela sua pouca exposição on-line, não é muito difícil controlar a pegada virtual dos nossos filhos. Mas, tudo muda depressa demais. 

A diferença entre remédio e veneno é apenas... a Dose! E apesar de ser distante a época em que esta frase foi dita por Paracelso, continua atual e pode também ser usada em relação à internet.


Podemos ensinar os nossos filhos a usar a internet com segurança?

É uma pergunta em que penso muito, como mãe e madrasta de crianças com 9, 12 e 18 anos. São miúdos que nasceram já ligados ao mundo on-line, que dominam smartphones, tablets e laptops como que brinca com legos.

Eles sabem que a internet é uma entidade mágica capaz de responder a perguntas obscuras, fornece desenhos imprimíveis de praticamente qualquer animal, que lá podem encontrar vídeos infinitamente repetitivos de gatos assustados, instruções do Minecraft, tutoriais de pulseiras de elásticos ou de truques de spinners...

O que eles não sabem é algo sobre vírus, privacidade on-line, phishing, etiqueta de redes sociais, ou sobre problemas de segurança na internet que se possa imaginar.

Ensinar-lhes sobre isso agora e manter esses ensinamentos é o meu trabalho. Apesar de passar o dia a navegar, em virtude de ter a profissão de Digital Marketer, tentar explicar-lhes como viajar on-line de forma segura é muito difícil. Mesmo para alguém que lida com estas situações no seu dia a dia.


Então, como criar cidadãos seguros e responsáveis?

Para não ter todo este peso sobre os meus ombros, decidi procurar a opinião de especialistas e de gente que trabalha na indústria de segurança na internet e que também têm filhos, para saber como explicar a alguém "como se tivesse 5 anos". 


Então, como criar cidadãos seguros e responsáveis?

Para não ter todo este peso sobre os meus ombros, decidi procurar a opinião de especialistas e de gente que trabalha na indústria de segurança na internet e que também têm filhos, para saber como explicar a alguém "como se tivesse 5 anos".


Começar a discutir segurança on-line: quanto mais cedo melhor!

David Emm, da Kaspersky Lab, diz-nos: 

"Acho que um dos pontos-chave é iniciar o processo de discutir a segurança on-line com seus filhos em tenra idade quando eles começam a fazer qualquer coisa que envolve a internet."

SE os seus filhos ainda usarem o computador ou tablet ao seu lado, acompanhados, avance assim que possível. Esta é uma boa oportunidade de realçar que tanto no mundo real como no mundo on-line existem coisas seguras e inseguras. Também permite exemplificar que há coisas que estão lá para nos proteger (exemplo: avisos de sites inseguros, senhas de acesso, etc.).

À medida que envelhecem e começam a fazer coisas de forma independente, amplie o círculo. Por exemplo, se permitir que eles abram uma conta com o Club Penguin ou algum jogo on-line, ajude-os a criar uma senha sensata e explique por que eles devem usar senhas diferentes para cada conta e as possíveis consequências de não o fazer. Se a senha for sempre a mesma, há mais possibilidades de ser descoberta e mal usada por alguém com intenções duvidosas. Faça o mesmo com as suas próprias senhas de acesso.


"Se não o faria cara a cara, não o faça on-line!"

Shelagh McManus, advogado de segurança on-line para a Norton, by Symantec refere:

"O conselho que dou à minha família e amigos é resumido em: se não farias cara a cara, não o faças on-line. Por exemplo, aproximar-te-ias de um completo estranho e iniciavas uma conversa? Você seria abusivo e insultuoso com amigos ou estranhos num café ou na escola?"

Só porque se sente protegido pela aparente distância que um ecrã cria entre si e a pessoa com que está a falar, deve lembrar-se que o on-line é o mundo real. 

Os adolescentes, na sua maioria, precisam de que os lembremos de que tudo o que fazem na internet é capturado para sempre e poderá voltar a assombrá-los. É muito comum as empresas de recursos humanos verificarem os perfis nas redes sociais quando pesquisam candidatos. 

Costumo falar com os meus alunos e amigos do meu "mais velho" e pergunto que tipo de fotos e informações é que deixam em "público" nos seus perfis. Devem sempre verificar as opções de privacidade, nem que seja para as tias não os chatearem por terem saído à noite em vésperas de exames. 

O ideal é perguntarem a si próprios antes de publicar algo (foto ou texto, sejá "só para amigos" ou em "público"). Esta publicação pode prejudicar-me agora ou no futuro? Posso prejudicar alguém com esta publicação? Se a resposta for positiva, não publiquem.


As crianças devem usar a internet sem acompanhamento?

Paul Vlissidis, Diretor Técnico da empresa de segurança cibernética NCC Group, diz que não usa filtros de segurança nos computadores em casa, porque ensinou os filhos a ficarem apenas nos sites seguros. Os seus filhos têm noção de que a internet pode ser um local inseguro e mantêm-se nos sites permitidos. 

"Eles têm software antivírus e eu verifico regularmente os seus tablets e computadores. E é isso. Basicamente eu confio neles. Eles perguntam-me e contam-me se algo de estranho aconteceu ou se ficaram preocupados com alguma coisa que viram (uma pesquisa do Google que a minha filha fez para Barbie e Ken certamente produziu alguns resultados interessantes que me lembro). É claro que eles ainda podem vir a ser criminosos, mas só o tempo dirá e pelo menos eu não me sinto como um espião."



"Ensiná-los a ter cuidados com os estranhos"

Amichai Shulman, CTO da empresa de segurança da rede Imperva: 

"Como um pai (quatro filhos), paranóico e especialista de segurança, posso lançar alguma luz sobre este assunto. Como comprovou o recente ataque cibernético à escala mundial, os adultos são vulneráveis aos piratas e, portanto, não podemos esperar que as crianças estejam mais seguras que eles."

"Eu não espero que os meus filhos se comportem on-line de forma muito diferente do que no mundo real. Por isso explico que os hackers são um tipo de criminoso que entra na nossa casa através do computador e não através da janela. É fácil para eles entenderem isso."

Também ensino que devem lidar com estranhos com as mesmas regras do mundo físico. Se não abrem uma encomenda sem saber quem a enviou, também não devem abrir um anexo de e-mail não solicitado.

"Podem eles cair na armadilha de quem assumiu a conta de ser amigo e enviou malware? Sim, mas a maioria dos adultos também. Eles poderiam ser vítimas de um ataque direcionado à nossa família? Sim, como quase todos os adultos."


"Depois de algo publicado, jamais poderá ser excluído"

A internet é um lugar fantástico, mas de ter cuidado com o que fazemos e dizemos/ escrevemos. Não diga coisas ou fale de assuntos que não são partilhados com outras pessoas da sua família. Pense no que publica, no que escreve, com a certeza de que não se vai arrepender nem magoar ou ferir alguém.



Lembre os seus filhos que o que se coloca on-line fica lá para sempre. O google dá a opção ao direito de ser esquecido, mas não se aplica em todo o mundo da mesma forma. 

Se o que faz ou diz é controverso, será copiado muitas vezes e sempre vai voltar e mordê-lo na cauda (salvo seja). Pode acontecer mais tarde na vida, quando quiser ir para determinada escola, ou estiver à procura de emprego.

O tipo de aparelho que usa para se ligar também é importante. Smartphones, tablets, computadores antigos ou modernos, todos precisam de ser protegidos. Use senhas sensatas e proteção antivírus. É um pequeno preço a pagar pela segurança da informação e intimidade.

Não receie pedir ajuda se não domina estas técnicas. Peça dicas a amigos mais entendidos ou numa loja especializada. 


"Nunca, em nenhuma circunstância, navegue desacompanhado"

Dave King, Diretor Executivo da empresa Digitalis tem a seguinte opinião:

"O primeiro e mais fundamental princípio é que meus filhos nunca, em nenhuma circunstância, navegam desacompanhados. Ambos têm iPad Mini que dominam com mais destreza do que a maioria dos adultos que conheço. Mas, ambos os dispositivos estão definidos para esquecer o código de acesso wi-fi para que não possam ter acesso à net sem que um dos pais escreva a senha."

Em minha casa, só há sinal wi-fi em espaços comuns. Não foi de propósito, mas assim a ligação fica limitada apenas à sala e cozinha. Nos quartos não há acesso, então não há internet.

É importante conversar com as crianças sobre os riscos físicos e virtuais, porque chegará o momento em que terão acesso aos mesmos, fora da segurança da nossa casa. 

Faço questão de falar abertamente sobre o conceito de conteúdo inadequado e sobre a existência de pessoas más. Da mesma forma que na geração anterior nos ensinaram para gritar alto se fossemos abordados por um estranho, devemos ensinar para que nos contem sobre qualquer abordagem on-line.

Falamos sobre trolling enquanto falamos sobre bullying e falamos de pedófilos no mundo virtual e real. Falamos sobre a Baleia Azul e os segredos que não devem existir, quando são ameaças para a sua integridade. Em última análise, queremos manter a sua inocência, mas onde costumávamos querer crianças de rua, agora precisamos de crianças sábias na web.



"Tente ser vigilante e monitorizar o que puder"

Chase Cunningham, criador do comics educativo "The Cynja" (sobre cybersegurança): 

"Para os meus filhos configurei "clouds" pessoais, os dispositivos eletrónicos só podem ser ligados com um código que apenas eu sei. Tenho sites bloqueados nesses acessos. 
Monitorizo os seus relatórios de créditos quando lhes coloco algumas moedas para usarem nos jogos on-line. Sim, porque há quem "assalte" crianças virtualmente e fique com os seus créditos de jogos. Apenas usam a internet quando estão acompanhados. Os meus filhos têm 3 e 5 anos de idade."

Chace, como achou que a explicação que deu aos filhos sobre o lado desagradável da net caiu em saco roto, criou uma banda desenhada que faz isso por ele. "The Cynja" ainda não está traduzida para português, mas os adolescentes já a conseguem ler (para os mais novos, os pais podem traduzir). Eles não entendiam o que Chase queria dizer, afinal ele era o pai geek, mas ao ler a BD sobre os perigos do ciberespaço, conseguiram perceber. 


Educar cedo e muitas vezes

 A primeira regra que tenho para como abordar a segurança on-line com crianças é educar, educar, educar. Não confie em mais ninguém para lhes dizer o que deveriam fazer. Por isso educar é, muitas vezes, termos primeiro de aprender para poder ensinar. Eduque-se primeiro, aprenda a proteger-se para lhes poder transmitir essa segurança. 

Aproveite o tempo para aprender sobre algo que não domina, ou que gostava de conhecer. Sobre edição de vídeos, sobre canais de Youtube e truques para aumentar visualizações. 

Além disso, quando estiver a falar com as suas crianças é bom usar material ou imagens, como vídeos ou banda desenhada. Desta forma, interiorizam melhor as informações. 

Vale a pena lembrar que algumas figuras de autoridade, mesmo aquelas na escola, podem dar conselhos desatualizados ou mal informados. Portanto, é sempre bom continuar a falar sobre estas coisas e corrigir quando necessário. 

Por exemplo, um adulto dizia há uns meses, numa escola, que todos os domínios .org são seguros. Esta informação já foi correta, mas agora podem ser registados por qualquer pessoa. Basta colocar qualquer palavra ofensiva entre 'www.' e '.org' e regista-se na mesma. 

Não ofereça nenhum dispositivo com ligação à internet antes de saber como funciona. Ficará admirado com as fotos e vídeos que uma criança consegue partilhar, mesmo sem perceber com quem. Imagine-se a ser filmada ao acordar, ou a sair do duche e, de repente, estão todos da sua família a receber o vídeo. E, se for só família, considere-se com sorte. 

A segurança da internet deve ser discutida com as crianças o mais cedo possível.


Os limites também trazem liberdade

A imposição de limites e a participação em discussões abertas apropriadas à idade sobre as atividades on-line do seu filho encorajam a sua mente a aprender sobre os benefícios e a perceber os perigos da internet. É importante começar essas conversas desde cedo, para os proteger de riscos que podem ainda não entender e prepará-los para enfrentar e gerir as ameaças. 

Não é diferente do que ensinamos no mundo físico. Eles aprendem a atravessar uma rua, a usar a passadeira, a não correr em sítios com muita gente, a não sair de ao pé de nós num supermercado, ... Aprendem que não podem arrancar uma erva do jardim e comer, não é?

As crianças, e alguns adultos, podem entender os limites como restritivos e draconianos. Mas os limites também trazem liberdade. Fornecem compreensão sobre o que é seguro e também dizem onde estão livres e o que pode ser explorado. 

Quando se trata de aprender a proteger a sua privacidade, discutir o uso das redes sociais é um bom princípio. Como o uso dessas plataformas está agora tão difundido, é importante implementar métodos para evitar conteúdos inadequados e conversar com os seus filhos sobre os perigos de formar relacionamentos com estranhos on-line, bem como sobre a importância de evitar que informações pessoais sejam tornadas públicas. Comece pelas suas próprias redes sociais, para poder saber ensinar...

Isso é particularmente importante à medida que as crianças crescem, quando os pais devem renunciar a algum controlo e não podem impor essas fronteiras de segurança da mesma forma. 






Estar seguro agora vai além dos vírus que o PC pode ter

Os pais e as crianças raramente têm tempo para comunicar. Então, em primeiro lugar, os pais devem conversar com os seus filhos sobre os potenciais problemas que podem ocorrer ao usar a internet.

Uma análise completa de todas e cada uma dessas questões - incluindo cyber-bullying, depressão, sexting, pedófilos, golpistas e exposição a conteúdos inadequados - deve dar à criança uma ideia do que os perigos da internet são todos. Fazer backup da lista de e-ameaças com exemplos reais da sua escola ou grupo de amigos também fazê-los aperceber-se de que o perigo é real. 

Os pais devem saber que ficar seguro na internet agora vai além das velhas questões de segurança de um computador. Existem pais a oferecer smartphones a filhos com 5 anos de idade. O uso precoce de smartphones e tablets aumenta o risco de contaminação por malware e fraude por SMS entre usuários que ainda estão a aprender a ler. 


Siga as mesmas regras do mundo real

O que ensina aos seu filho sobre o mundo físico? Siga as mesmas regras. Se ele não tem a certeza sobre algo ou alguém, deve perguntar-lhe a si ou a um adulto em quem confie. Se algo incomum acontece quando está ligado à internet, deve informar os pais.

Se algum dos seus amigos lhe disser como contornar os filtros de conteúdo e as barreiras de instalação de aplicações e jogos, explique que não o deve fazer sem falar com os pais. 

Com todas estas regras básicas, não pretendo alarmar ninguém. São informações que vão tornar os vossos filhos pessoas cientes da negação on-line e fazer o melhor uso possível da mesma. É como andar de bicicleta, não se tira logo as rodinhas de apoio sem sabermos que a criança é capaz de ir em frente sem partir a cabeça. Se estivermos seguros das informações que lhes transmitimos, eles podem circular de bicicleta à vontade. Se caírem, também podemos ficar descansados que seremos os primeiros a saber.


Suzy Lorena